Fragmento de la “Ora Marítima” de Rufo Festo Avieno.
"Baixo
o cumio deste promontório, a entrada que é chamada polos nativos de
Oestrimnida é expandida ao longo das ilhas Oestrimnidas, ricas em metal
de estanho e chumbo... daqui para chegar a esta ilha por navio, a
viagem som dous dias. Deitada está a ilha, cheia de herva, entre as
ondas do mar, habitada polo povo dos Hiernos. À sua vez tem perto de si
a ilha dos Albions"
Talvez
esta seja a primeira referência escrita das Ilhas Britânicas, de Eire e
da England, em referência aos dous nomes de lares na sua forma grega,
Hierne (Eire) e Albion (Inglaterra), onde o Avienus romano descreve o
comércio dos Tartessianos com os Oestrymnios (celtas galaicos), dos
quais sabe-se que estes navegam em barcos de coiro ao norte, em direçóm
a Eire, aproveitando as correntes marítimas e chegando à ilha verde em
dous dias.
E
é que a Galécia limita ao norte com Eire. Lógicamente, as afinidades,
paralelismos e analogias em ambas as culturas som óbvias e nós
ousaríamos dizer que isso deve-se a umha origem e substrato étnico
comuns, a umha tradiçom espiritual pagã-cristã ancestral e a umha alma
mística de duas terras e naçons que olham para seu interior verde e
azul atlântico, como som Eire e Galécia.
Vencelhos na paisagem e na paisanagem
Imos
começar por sinalar umha afinidade geográfica como podem ser as costas
dos dois países, cousa surpreendente se compararmos as silhuetas de
ambos os limites geográficos e observamos as suas rias, baías e cabos
coidadosamente, como reparou o mestre Vicente Risco alá polo 1921 [1].
E é que as rias galaicas som muito semelhantes às rias irlandesas,
enquanto os "fiths" escoceses som mais semelhantes aos fiordos
escandinavos. Em Eire os cabos Malin e Fanad, os mais ao norte,
corresponderiam ao extremo norte da nossa península ibérica, que é o
maravilhoso Cabo de Estaca de Bares e Cabo Ortegal. Em seguida atopamos a
baía de Foyle que corresponderia à ria de Viveiro. A de Swilly
corresponderia à de Ortigueira. Cara o oeste, a costa irlandesa tem a
mesma forma que a galaica até Cabo Teelin, que seria o Cabo Prior e a
Baía de Donegal seria a análoga da ria da Terra de Trasancos
(Ferrolterra). Continuamos até a baía de Killala que corresponderia à da
Corunha e até o Cabo Irlandês de Achill, que seria o Cabo galaico de
Tourinhám. O cabo Fisterra seria o cabo Llyne. A baía de Galway
corresponderia com a Ria de Arousa, a do Shannon com a de Ponte-Vedra e a
de Dingle com a majestosa de Vigo, as ilhas Blasket com as ilhas Cíes e
Tralee com Baiona. Estes som os paralelos geográficos que um jovem
Risco relata. Umha anedota pessoal afirmou essas curiosas afirmaçons e é
perto de há 26 anos, umha jovem irlandesa, Graìnne, visitando a nossa
Costa da Morte (que também é Costa de Vida), ao chegar a Mugia e
Fisterra, ficou surpresa, encantada , impressionada pola semelhança com o
seu Tralee natal. Descobriu o Éire do sul, Galiza, ambas terras
selvagens, terras húmidas e férteis, terras atlânticas e graníticas.
As
coincidências geográficas de duas terras atlânticas, coincidências de
duas naçons celticas que, olhando cara o Atlântico virom o sangramento
da emigraçom dos seus filhos navegando as suas águas atlânticas cara as
Américas, para aliviar as precárias situaçons econômicas dos seus
trabalhadores, labregos e marinheiros submetidos a nobrezas Traidoras e
leis estrangeiras, inglesas num caso, castelãs noutro ... "Thousands
are sailing" cantava o mítico conjunto musical irlandês The Pogues, aos
filhos de Eire que viam-se obrigados a abandonar a sua amada terra.
O
amargo qualificativo de "wild irish", selvagem irlandês, sinônimo de
tosco, grosseiro, parvo tinha esse significado para o anglo-saxóm;
"Gallego", como um bruto, burro de carga, parvo, tinha esse significado
para as pérfidas castes dirigentes castelãs. Continuam nestas alturas
da história existindo "imbeciles e escuros" que qualificaria o nosso
bardo Eduardo Pondal, que continuam a pensá-lo -e claro - em tais
coordenadas, som realmente dementes e perigosos inconscientes do
futuro-presente das suas pátrias carnais e da antiga Europa.
Éire
e Galécia além de compartilhar semelhanças geográficas e paisagísticas
curiosas, também possuem afinidades de paisanagem. E precisamente por
isso e nom por qualquer outro avatar elucubrado polos "roxiverdes",
justamente por compartilhar esse paisanagem, por possuir substratos
étnicos comuns, compartilhamos tradiçom e religiosidade comúns,
arqueologia e antropologia afins.
A antiga lenda galaico-irlandesa confirmada pola genética
Obrigatoriamente,
temos que tomar como referência umha importante fonte medieval, como
"O livro das invasons", no gaélico "Leabhar Ghabhala", onde nos relata
de forma verdadeira e fantástica a genealogia das invasons de Éire, que
ocorrem ao longo da sua história mítica. A lenda e a história estám
misturadas como um entrelaço propriamente da arte celta. Foi escrito
sobor no ano 1.100 no mosteiro de Terriglass baixo a direçom do Bispo de
Kildare, Finn Mac Gorman e com a bençom do Rei de Leinster, Dermot Mac
Murrough. Sucedem-se os míticos Partholon, Nemhed, os escuros
Fir-Bolg, os Tuatha de Danann e a expediçóm dos filhos de Mil dende
Galécia até Éire [2]. “Ro cumdacht cathair iaromh la Breogham isin
Iberiain, Brigantia a hainm y do ronadh tor lais ara hienehaibh, dia
ngoirter Tor Breoghan”: ("Depois Breogám fundou umha cidade na Ibéria,
chamada Brigantia e construiu umha torre ao lado, chamada Torre de
Breogám"). Breoghám, mítico rei celta galaico, fundou a cidade de
Brigantia [3] (Betanços, Castro localizado na confluência de dous rios,
em honra à deusa celta Brigantia, da qual som conservadas
representaçons escultóricas no nosso antigo arte europeu), e nela
ergue-se umha torre ao lado do mar, entre outros usos como guia noturno
para marinheiros. Numha noite invernal, Ith, filho de Breogham, sobe
ao alto da torre e ao longe do oceano, parece-lhe ver umha terra
desconhecida. Solicitou o consentimento do seu pai e a expediçóm foi
feita, mas antes o seu pai Breogham, aconselhou ao seu filho fazer a
viagem montado no seu cavalo a bordo do barco, como um presságio para
voltar para o seu fogar depois de conhecer essa terra misteriosa, que
nom era outra que Éire. Ith junto com o seu filho Lughaidh e outros
companheiros de expediçóm até as costas irlandesas, é morto nas mãos
dos Tuatha de Danann. O seu pai em vingança envia outra expediçom e alí
com o seu exército ao mando de Mil. Chegam novamente os celtas
galaicos, os filhos ou tribos de Mil, chegam de novo à ilha de
Hibernia. Mas antes da tribo de Danann, os Tuatha de Danann, com a sua
magia agocham a ilha com névoa, mentres o druida galaico Aimirgin [4]
invoca a terra de Éire e aos elementos, conseguindo superar a sua magia.
Entóm desembarcam e os Tuatha de Danann som derrotados na batalha de
Sliabh Mis. A esposa de Mil, Scota (cujo nome vem de Scotia, Escócia), é
morta na batalha. Outras batalhas seguem até dominar completamente a
ilha. Esta invasóm dos celtas galaicos polo mar, nom seria expulsada da
ilha por outro povo, sendo a sua presença ininterrompida em Eire até
séculos posteriores com a chegada dos vikingos, escoceses e ingleses.
Até
agora, falamos de mito e lenda recolhidos na florescente e esplêndida
idade media. Embora os historiadores anti-celtistas (sejam marxistas ou
franquistas) criam que isso nom era mais do que um bonito conto que os
antigos galeguistas e asturianistas inventaram para justificar
umhas origens míticas e identitárias. Mas as pesquisas recentes sobor genética
estám a provar para todos e complementando, o que aos olhos dos
negadores e o seu método sobor cultura econômica
e material que pode aportar para eles a arqueologia, que os antigos
mitos indo-europeus e, neste caso em particular galaico-irlandês ou
céltico, para a sua desgraça e para o nosso orgulho verificam-se por
outros canais de investigaçom.
Os
historiadores britânicos sempre crerom que as ilhas britânicas foram
invadidas na Idade do Ferro pelos Celtas da Europa Central sobor o
500 aC, mas os geneticistas do Trinity College Dublin agora afirmam que
os escoceses e os irlandeses tenhem o mesmo ou mais em comúm com as
pessoas do noroeste da Ibéria do que com outras áreas da Europa (Estado
Belga, norte do estado Francês), como eles criám Dr. Daniel Bradley,
professor de genética no Trinity College em Dublin, num estudo sobor as
origens dos irlandeses e escoceses publicado no American Journal of
Human Genetics, revelou grandes afinidades com as gentes da Galécia.
Este estudo foi feito usando amostras de ADN de pessoas que vivem nas
naçons celtas e outras partes da Europa, assegurando que os escoceses e
os irlandeses devem procurar seus antergos no N.O da península ibérica.
Antes
de Roma o N.W. peninsular estava habitado por um povo proto-celta
matriz dos celtas do mundo Atlântico. Assim é como no-lo demostram os
estudos de várias universidades nom só britânicas, seguindo estudos
genéticos e mesmo a mais moderna Teoria da Continuidade Paleolítica de
Mário Alinei, Francesco Benozzo e ainda o anteriormente o Professor
galego André Pena Granha que já expus esta teoria, polo menos no que diz
respeita ao Noroeste peninsular vários anos antes do que fosse exposto
polos professores italianos, mas como na Galiza tudo passa pela
peneira centralista nacional-espanhola nom houve forma de que
transcendesse. Por desgraça nestes lares floresce algo mais a verdade
quando as vozes chegam doutros países/estado forâneos.
“Considero
a Galécia a origem da celticidade em toda Europa. Mas há umha
tendência inata por parte dos que estám no poder de excluirem e
centralizar qualquer tipo de estratégia ligada ao seu poder. Dende a
sua óptica os celtas sempre forom os perdedores, polo tanto sempre
forom excluidos de qualquer jogo de elites europeias”
Francesco Benozzo
Celtófilos VS. Celtófobos
Em
conclusom, podemos ver que neste caso particular a genética é validada
na lenda-mito de Ith como invasor de Éire e que a corrente do
Atlântica que em dous dias levou aos descendentes de Breogham dende
Galécia cara Éire narrados nos tempos antigos, ou a constância das
relaçóns entre o N.O peninsular e as ilhas britânicas polo romano Rufus
Festo Avieno, nom som para rem umhas velhas histórias, senom o
contrário. Pouco a pouco dilucida-se e esclarece-se a etnogênese dos
habitantes atuais da antiga Galécia (Lucenses, Bracarenses e
Asturicenses). Até recentemente, falar sobor Celtismo na Galiza era
quase um motivo de risada e sorna para os historiadores "oficialistas".
O que alguns o consideravam um "celtismo decimonónico" inaugurado
polos galegos Verea-Aguiar, Villamil ou Manuel Murguía, passando por um
Florentino L. Cuevillas, Otero Pedrayo ou Vicente Risco; ou mesmo por
asturianistas Bernardo Acevedo y Huelves, Fermín Canella Secades ou
Juan Uria Ríu, passou-se a umha "celtofobia ou anti-celtismo" predicado
por F. Calo Lourido, Pereira Menaut, de la Peña Santos ou C.Alonso del
Real, [6] claro que eles mesmos nunca se reconheceriam com essa
apresentaçom e esses adjetivos. A guerra civil no estado espanhol
significou umha mudança de orientaçom ideológica na nossa
historiografia, finalizando com a laboura do Seminário de Estudos
Galegos, onde os autores celtistas estavam conscientes do forte emprego
ideológico e político em favor do nacionalismo galego através das suas
investigaçons. "Contra o que se acostuma a pensar, conceitos como
estado, etnia e etnicidade também eram estudados numha declaraçom ética
de intençons que até agora nom foi mui freqüente na investigaçom
protohistórica na Galiza" [7].
Para
os autores anti-celtistas ou celtófobos, o processo de gestaçom da
Cultura “Castreja” responde à unióm das influências atlânticas e
mediterrâneas que se somam às contribuiçons indígenas. Essas
influências ocorreram durante o Bronze final. Incluso chegam a
postular, que os romanos e outros povos mediterrâneos traziam arte
céltico para o adorno da Galécia, como se nom tiveram outra cousa
melhor que fazer.
Os
contatos fluidos neste arco atlântico e a colonizaçóm das ilhas
britânicas dende o noroeste peninsular também é confirmado pola cultura
material. A arqueologia mostra-nos que a estrutura das vivendas celtas
irlandesas e galaicas a ambas beiras do Atlântico som praticamente
idênticas, bem como o simbolismo empregado nos seus objetos, tanto
cotiás como sagrados. Os autores pensam que a expansom da cultura
megalítica de Breizh, Cymru ou Éire, nom se limita a relaçons comerciais
simples, senom quie é o produto dumha emigraçom peninsular. Os copos
em forma de campã/sino tomaram diferentes formas em cada país, mas o
grupo bretóm está intimamente relacionado com os do Teijo inferior e da
Galiza, que na sua opinióm som tam semelhantes que num museu poucos
poderiam diferenciá-los. [8]
Respeito
à linguística, acreditamos que a intensidade e persistência dos
intercâmbios em toda a área atlântica deveu-se ao fato de existir umha
linguagem "franca", já que alguns autores (Mallory, Koch, Rankin)
sostenhem que da Escócia a Galécia, essa mesma língua celta era
perfeitamente reconhecível entre as diferentes terras daquela "Celtia
Atlântica". Assim, "O indo-europeu beiço-Velar KW ou Q arcaico,
tornou-se P bilabial e isso produziu duas variedades principais, o
Goidélico ou Celta-Q e o britânico ou Celta-P. Na Éire, a variedade
goidélica foi falada enquanto que no resto das ilhas britânicas, as
Galias e o resto do mundo celta passarom à variedade Q para o P, com
exceççom da Galécia, onde continuou-se a usar o celta-q. As duas terras
periféricas do mundo celta, Eire e Galécia nom forom afetadas pola
evoluçóm cara o Celta-P das terras centrais "[9]
Na
Galécia os restos toponímicos, teonímicos e onomasticos, ou seja: os
nomes dos deuses, os nomes dos lares e os nomes das pessoas som quase
todos célticos. Os nomes dos lares som profundamente celtas: os nomes
dos rios, cidades e ademais nom só que som celtas, senom também som os
mais antigos da Península Ibérica e do arco atlântico, bem como o
primeiro assentamento deste tipo. Os teônimos, som indo-europeus com
rendas no céltico, umha entidade enraizada à língua, nom está separada
da sociedade.
Na
semântica temos construçons como o verbo "ter" no canto do verbo "ser"
nos possessivos, como ocorre no galego e no galês, a palavra
"levantar" no sentido de "construir" como no bretóm. O gênero das
árvores é feminina, o gênero do "sal, custe, mel, leite" em masculino.
A
forma "bem", que significa para nós em muitos casos como "muito",
"trabalha bem = trabalha muito", também de substrato celta, o uso de
relativo e infinitivo, por exemplo, "estou a trabalhar, estou a dizer" é
também de mesmo substrato, o galego é a única língua influenciada polo
latím que conserva isso. A resposta com o próprio verbo também é um
substrato celta: "-Rapaz comiches? -Comím”. -Rapaz tens frio? -Tenho.
Também o infinitivo conjugado, para colher-mos, para irem, para fazerem,
para colheres, falares etc, também é do substrato original celta, a
única língua que reconhece estas características.
Comparando
o substrato celta que o nosso idioma possui com o substrato latino que
o inglês tem, é claro que todos reconhecem o inglês como língua
germânica, mas qualquer texto em inglês se removemos as palavras de
origem latina ficaria em muitas ocasons no esquelete com palavras soltas
sem sentido algúm, porque o inglês tem umha influência latina do 60%,
mas ninguém chamaria a esta língua de latina. E mesmo o Romeno tem
influência eslava. O galego actual ficaria no mesmo esquelete se foram
removidos as origens célticas do seu idioma. A chamada “Celtic League”
arroga-se no direito de proclamar só “naçons celtas” aos territórios que
conservem a língua celtica falada e enxebre, mas de ter sido desta
maneira, por desgraça o habitual mapa das naçons celtas ficaria reduzido
a territórios-formiga de pequenas costas de Eire e Alba. Polo tanto
imos ser um pouquinho sérios e coerentes.
O folclore do Arco Atlântico
Também
no folclore popular existem essas grandes semelhanças, já que as
crenças sobrenaturais e a "visom do Outro Mundo" que possuiam as naçons
celtas do Atlântico som muito semelhantes, senom quase idênticas. Sobor
os megalitos, sobor as citânicas e palhoças, os seres míticos ou
sobrenaturais, os sidhe irlandeses, as fadas britânicas e as "mouras"
galiza ou “xanas” das Astúrias. É umha crença firme e enraizada entre as
pessoas, que os castros antigos eram a morada dessas fadas ou
"mouras", isto é, as "pessoas mágicas" que nom eram cristiãs e que eram
pagãs. A apologética cristã traduz esta antiga religióm e aos seus
seres míticos em inimigos da nova fé. Relacionou-se a esses seres
míticos de maneira tendenciosa com práticas mágicas como as que
poderiam ser celebradas pelos infiéis que cobravam fortes tributos,
inimigos e invasores que provinham da África baixo a fé islâmica. Mas nada mais longe da realidade, pois essas crenças seriam propriamente
celtas, indo-europeus e essas "gentes mágicas" estariam
relacionadas ao mundo ctónico.
As
crenças em torno aos mortos, as suas apariçons e augurios refletidas
no folclore popular em torno dum fenômeno semelhante conhecido por
nomes diferentes no mundo celta do Atlântico. A Santa Companha galega, a
Huestia asturiana, o Fairy Host irlandês, o Sluagh escocês e o Toili
galês. Possuem logicamente as suas diferenças, mas as suas grandes
afinidades forom estudadas por antropólogos, concluindo que essas
crenças relacionadas entre as almas do falecido e suas visitas ou
convivência com os vivos reflitem umha crença ancestral de que o
cristianismo nom puido eliminar completamente. Tivo que "santificar" o
Dia dos Defuntos, que é, como é amplamente conhecido, o Celta Samhain.
Segundo foi contado por um camarada, a Santa Companha, a Huestia e os
seus paralelos escoceses, irlandeses e galeses, esta crença poderia ser
umha lembrança da Hoste Furiosa, da Wildes Heer ou da fraternidade de
guerreiros mortos que transitam a noite e isso alcançou-nos um pouco
deformados na nossa memória popular ao longo dos séculos.
Mitologia Gaélica e Galaica
Indubitavelmente,
a mitologia comparativa das divindades irlandesas e galaicos ,
proporciona-nos a esta breve revisom dos vencelhos, mais do que um
conhecimento de analogias interessantes. Lembraremos de forma
esquemática que as religions indo-européias caracterizavam-se por
habitar no seu panteóm umha série de deuses com características bem
definidas, tal como forom divididas por Dumezil:
1.- Umha parelha de deuses que desenvolvem atividades complementares,
mas opostas, do Sacerdócio-Realeza, que no panteóm védico correspondem
com Mitra e Varuna.
2 .- Um deus da caste guerreira, detentor de grandes fazanhas e sobor o
qual repousa a ordem do mundo, o que corresponderia a Indra
3.- Um par de deuses propiciatórios de saúde, fecundidade, abundância e
prosperidade, deidades características da casta da terceira funçom,
que corresponderia a Nasatya e Ashvin.
4 .- E, finalmente, umha única divindade feminina, mas ao mesmo tempo
trifuncional, isto é, Santa, Guerreira e Maternal.
Essas
características repetem-se na religióm celta tanto da Eire com da
Galécia, embora com nomes diferentes. Assim como o panteóm celta
irlandês é preservado através da sua fecunda literatura, nom ocorre o
mesmo com a religióm celta galaica, que é reconstruída através do estudo
de teónimos e nomes de lugares.
Dentro
do panteóm irlandês, o único deus supremo e rei universal é Lug
Samildanach. Assim pois dentro da primeira funçóm do sacerdócio real, no
caso irlandês seria correspondente a Nuada-Ogme e Dagda-Mananan. No
caso galaico também aparece Lugu, onde o teônimo aparece nas aras com o
epíteto Arquienobo/Arquienis. A sua variante teria sido Arconi, e a sua
etimologia remete-nos aos orksos indo-europeus (urso), com
paralelismos mais óbvios com o Mercúrio Artaius Romano ou com a galo
Artio/Artioni. Este epíteto relacionado ao urso e à estrela polar da
Tradiçóm Primordial, de caráter régio e soberano, de memória
hiperboreana clara, já foi explicado por René Guénon. [10] Continuamos
na sua correspondência em relaçóm ao caráter sacerdotal do deus-druida
Dagda, o seu teônimo seria o de Mocio/Muciaeco (porco, javarím,
javali), conforme atestado polos santos de Santa Comba de Bande em
Ourense ou Viana do Castelo em Portugal, acompanhado pelo adjetivo
Carus (querido), pode muito bem aludir a Dagda, que é um deus muito
apreçado pola sua bondade [11].
O
deus da caste guerreira, como o Ogmies/Ogme galo-irlandês, no caso
galaico seria Bandua, versom do deus indo-europeu de "laços mágicos",
cuja etimologia é achada no bhendh indo-europeu (atar, ligar) faceta
agitada e violenta que representa a unióm de força e a magia para a
proteçom do poder soberano. Os epítetos de Bandua nom fazem senom
reafirmar o seu caráter de guerreiro-mágico, entre os quais podemos
destacar os seguintes: Apolosegos, como forte e vitorioso, Cadogus como
combatente, Roudeaecus como a cor guerreira que é a vermelha. Cosso,
Cossuo ou Cossuvo (Cossuve, Cossue naquele.), Deus guerreiro, que gozava
de grande popularidade entre os galaico-lucenses, foi um dos deuses
mais reverenciados da antiga Gallaecia. Vários autores apontam que Cosso
e Bandua som o mesmo deus sobor diferentes denominaçons.
Em
relaçom à deusa trifuncional, a Brigit/Dana irlandesa posteriomente
cristianizado baixo Santa Brígida, como padroeira de Eire, na religiom
galaica igualmente atopamos baixo a tripla advocaçom de conservatrices,
victrices e guvernatrices nos Matres Galaicis, que nos fornecem das
riquezas agrícolas, da "fartura" e da abundância dos seus froitos e
cornucopias que acompanham nas suas representaçons. A prova de que nom
só eles possuiam um aspecto de conservatrices estas Matres, está no seu
apelativo Matres Suleviae (Solares), que na Gallaecia recebiam o de
Nantugaicis, aproximando-se à gala Nantosuelta, (a que tem o esplendor
do Sol). As invocaçons britânicas de Victoria Brigantia (poderosa
Vitória) e de Andrasta, nós emparentamos o toponímo galaico de
Brigantium e a deusa gala Andarta (a grande urso, novamente lembrem o
simbolismo primordial e régio do urso). Návia é umha deusa que
geralmente é confundida com as correntes do rio, como é testemunhado de
boa maneira a hidronimia. Mas longe de ser umha deidade menor, as
inscriçons no altar testemunham importantes sacrifícios na sua honra,
comparáveis a outros deuses importantes, acompanhados do epíteto de
Corona, como Chefa dos Exércitos, posto que dacordo com as
interpretaçons, a virgindade seria a expressom comum da independência
das deusas da guerra nas sociedades indo-européias. Assim, Navia Corona,
ao estar relacionada com as águas,rios ou espaços aquáticos teria sido
a guarda do acesso ao Outro Mundo, talvez a antiga evocaçóm da lenda
medieval do Lago da lenda Arthúrica, bem como a lenda das xacias Juana,
Viviana e Ana som ecos populares desse papel triplo de Brigit/Dana.
Berobreo,
deus além e do outro mundo. O maior santuário adicado a Berobreo
documentado até agora, foi localizado no Castro de Facho de Donóm, na
Península de Morraço, fronte às Ilhas Cies. Bormánico, deus das augas termais semelhante ao deus galo, Bormanus. Sannoava,
deusa local ligada às fontes dacordo com a inscriçom achada em
Campanhô (Ponte-Vedra). O seu nome pode ser traduzido por "rápido do
rio" e vem da raiz sn̥wa "mover-se rapidamente", mas o sufixo
abondancial -awa, de jeito que poderia ser refeito como sn̥wa-awa. Este
radical e o mesmo que atopamos nos antropônimos galeses Sanuaca e
Sanuanus. Coventina, deusa da abundância e fertilidade.
Fortemente associada às ninfas das augas, o seu culto é registrado na
Europa Ocidental, dende England até Galécia.
Cultos solares, pedras sagradas e iniciaçom de guerreiros
Outra
analogia e vencelho entre as naçons galaica e irlandesa é o valor
religioso que para ambos possuem as pedras sagradas, pedras iniciáticas e
onfálicas. A funçóm soberana deve fecundar a terra, a pedra bruta é
dacordo com a Tradiçom, a "matéria-prima", o "caos" em tanto micro como
macrocósmicamente, deve ser labrado para ser ordeado. Os petroglifos
podomorfos testemunhados por várias fontes célticas eram locais
destinados à celebraçom de rituais onde o caos, a terra era fecundada e
ordeada polo soberano, polo guerreiro e o herói. A pedra "capital" de
Crom Crúach em Eire, estava localizada no centro da ilha, no eleito dos
reis de Eire. Um dato curioso é que a forma galega de pedra, "croio"
provém também do céltico. Conhecida também é a lenda da Pedra escocesa
do Destino que serviu para o ritual de investidura dos reis escoceses e
mais tarde roubado polos anglo-saxons, servindo na Abadia de
Westminster para a coroaçom dos reis de England, sendo esta pedra
escocesa de origem galaico dacordo com as versons da lenda. Este ritual
de eleiçom de chefe do clam, de rei é amplamente conhecida em todo o
mundo celta, como Guyonvarc'h nos fala sobre a pedra de Fal, pedra de
escolha que emitiu um berro baixo os pés do aspirante a rei. Também nas
Ilhas Shetland, reservadas para este propósito, foi atopado um bloco
de pedra com o perfil de dous pés nas portas da fortaleza britânica de
Clikhimin. E na Galécia, em Cabanas (Crunha), sobor umha grande pedra
erguida sobor umha fouce no rio Eume, este petroglifo podomórfico é
conhecido como a "Pedra da Eleiçom", sendo o lugar onde os alcaldes
foram antergamente eleitos. Outra tradiçom é a de A Pena de Nosa
Senhora, em Cambre (Crunha), onde, dacordo com a versom cristianizada, a
Virgem pousou os pés, sendo esta pedra possivelmente como muitos
outros lares rituais de iniciaçom ou eleiçom do chefe, como a do castro
de Amoeiro.
O
simbolismo dessas pedras iniciáticas era como dixemos, a fecundaçom da
Terra, a ordem do soberano sobor o caos e este ritual poderia ser
substituídos por outro análogo que consistia em montar um sapato único
ao rei, já que isso é atestado pola literatura Irlandesa, sobor o uso
dumha sandália em atos de investidura e em reivindicaçom de direitos
reais (fer an énais um homem de sandália). Ao
portador desta sandália, dacordo com a Tradiçom, tem permisso para
caminhar tanto nas augas como na Terra, revelando umha origem
sobrenatural. Estes ritos de investidura som conhecidos baixo o tema
"monsandalismo"/"monokrépides", representaçom mítica comúm no mundo
indo-europeu em relaçom à convergência virtual do Outro Mundo com este
através dum heroi calçado cum só sapato [12].
E
se alguém duvidou da religiom galaica como um punhado de simples
crenças panteistas e animistas, cum caráter "lunar" e ctônico, as
duvidas som dissipadas, já que a realidade atual mostra-nos que rem está
mais longe disso, já que recentemente as investigaçons realizadas por
historiadores da Universidade de Santiago de Compostela sobor o estudo
dum alinhamento arqueoastomático em A Ferradura (Amoeiro-Ourense)
reafirmam a natureza solar dos cultos e ritos dos celtas galaicos em
torno da situaçom e construçom dalguns dos seus assentamentos, com
análises idênticas de várias cidades galesas, localizadas em meandros e
confluências de rios, como Condate, Vesontio, Alesia, Lugdunum. Esta
analogia é repetida no mundo indo-europeu noutras áreas geográficas,
como a Índia, onde, como curiosidade, a regióm onde o Ganges e o Yamuna
convergem, é chamado Devprayag, cuja etimologia Deva, (Deusa), tem
semelhança entre o próprio Minho e um afluente seu, o Deva. "Os
elementos da cultura celta som inegáveis: a importância do sol,
considerando o feito do deus celtico Lug tem associaçons solares
significativas, a proximidade dos podomorfos sobor os quais em todo o
mundo celta as investigaçons reais som festejadas juntamente com o feito
de que a realeza em geral forma parte do eido governado polo deus Lug
" [13]
Concluindo,
de forma esquemática analisamos umha série de analogias e paralelos,
dende a genética até a lenda, da religiosidade celta e as devoçons aos
seus deuses à linguística e à antropologia, entre duas naçons e duas
terras (também mais de duas) que ainda mantenhem vivas a sua lonxana
Eemória céltica, posto que a levam nom só na alma e no seu sentimento,
senom também nos seus genes. Essa lembrança, aquela memória adormecida
deve florescer e despertar nestes tempos densos, sombrios e escuros para
poder cantar novamente como bardos, sagas e poemas nom só de morrinha,
senom também de futuro presente.
CELTIA
Ei Armórica, Cornubia e Cambria
Escócia, Erín, Galiza,
E a illa de Man.
Son as sete nacións celtas
Fillas do pai Breogham,
Miña Pátria Galiza,
Ti és e ti serás
Cos teus verdes agros
O mais quente fogar.
Son os sete cisnes brancos
Fillos dos Dedanians,
Para ti miña pátria
Nos beizos un cantar,
Nos peitos a ledicia
Da nosa mocedá.
Hino das Mocedades Ultreia, de Fermín Bouza-Brey
Dende a praia cambadesa.
¡Balcóns froridos! ¡ Olmos da<<Calzada>>!
¡Vellos patíns! ¡ Mareiras! ¡<<Mos de Fóra… >>!
Do teu paso a lembranza ben amad
a
Enche a viliña homilde e soñadora;
I a enxebre vos, ardente e namorada,
que anunciou da Rexión a nova aurora,
inda está prisioneira i encantada
nos carballos do monte da << Pastora>>!
Cando tecendo ensonos, paseniño,
Da beiramar pola deserta rúa
Na silenzosa noite me encamiño,
Ouso bruar o teu ¡<<Érguete i anda>>!
¡E xurde un pobo que ó craror da lúa
Ruxe a estrofavaril¡<<Como en Irlanda…!>>
Alfredo Brañas
¡IRLANDA!
Irmanciña adourada
Que pasache-lo mar!
Antre a brétema, o tanguido
Da campaíña de San Patrício zoando vai!
Carne, sangue, ósos celtas!
Irlanda! Irlanda, irmán!
Tem unha nova estrela o nosso ceo
E tem uns santos novos no altar
Chegou o teu berro
ós cons de Fisterre que baten o mar
E abreu o teu laio, salouco e ruxido,
As vellas feridas do vello Breogán…
Xa está cheo de sangue vermello
O cáliz do San Graal!
Irmanciña adourada
Que pasache-lo mar!
A lanza groriosa dos feitos heroicos os sagros mistérios,
en alto… Afiada… na man!
Ramón Cabanillas
Federico Traspedra 2006 e Afonso Denis Carvalho 2017
[1] Orgâo da sociedade NÓS, “Irlanda e Galiza” de V.Risco, nº 8. Ourense, dezembro 1921.
[2] LEABHAR GHABHALA “o livro das invasons” ediçom de Ramón Sainero, Akal 1988.
[3] Há discordâncias entre os historiadores se Brigantium é a actual Crunha ou bem Betanços.
[4] Aimirgin é considerado como o primeiro bardo ou poeta de Irlanda, sendo este do clam de Mil.
[5] Diário “La Voz de Galicia”, 22 de Setembro do 2006.
[6]
Existe na Galiza a corrente certeira de autores que sostenhem o
carácter céltico da Galécia em época proto-histórica. Cabe salientar ao
arqueólogo A. Pena Granha, B. García Fdez-Albalat, R.Brañas entre
outros estudosos da Cultura Galaica.
[7]
“Os celtas en Galicia. Arqueoloxía e política na creación da
identidade galega” Beatriz Díaz Santana. Ed. Toxosoutos 2002, Pág. 42.
[8] “Afinidades culturais entre Galicia e Irlanda” Elisabeth Frances Keating. Ed. Galaxia, Vigo 1988. Pág. 46
[9] “Os Celtas da Antiga Gallaecia” Manuel Alberro. Ed Toxosoutos, Noia 2004.
[10] Ler René Guénon “Símbolos fundamentais da Ciência Sagrada” –Cáp.24 “O Javarim e a Urso” e em “Um símbolo indo-europeu: o Javarím” F.Traspedra. Revista Terra e Povo nº 7 Dezembro 2004
[11] “Deuses, heroes e lugares sagrados” Rosa Brañas, Sotelo Blanco Ediçons. 2000. Pág.58
[12] Op. Cit. Pág. 75. Rosa Brañas
[13] “Alineación arqueoastronómica en A Ferradura (Amoeiro-Ourense)” M. García Quintela/M. Santos Estévez COMPLUTUM 2004 Vol. 15 [14] A autoria do poema e atribuida a X.Filgueira Valverde.